Ano que vem eu faço...


Jorginho era um cara comum, acordava cedo para ir trabalhar, pagava seus impostos e provia para sua família.

O orçamento sempre apertado não garantia grandes luxos como grandes viagens ou restaurantes caros. Porém garantia churrasquinho, o cinema com os filhos, o passeio de carro no final de semana.

Jorginho levantou domingo cedo, organizou a mala térmica e os lanches, acordou e colocou esposa e crianças no carro. Era hora de pegara rodovia e encarar o  congestionamento até o litoral.

No caminho lento e cansativo pela rodovia, Jorge olhava a paisagem, senti ao vento no rosto, o calor do sol. Olhava os motociclistas passando pelo congestionamento como se ele lá não estivesse. Pensou: Como seria bom se eu tivesse uma moto. Será que posso comprar uma moto? Quem sabe ano que vem.

Os anos foram passando e o projeto duas rodas sempre sendo postergado, ano a ano, dia a dia Jorge se via cada vez mais angustiado, os filhos mais velhos já ensaiavam suas vidas independentes, os passeios de final de semana estavam ficando mais escassos.

Sem perceber, dez anos já haviam se passado. Jorge viu que sua vida poderia ter sido melhor, apesar de não estar arrependido, se sentia orgulhoso de suas conquistas.  Será que não era hora de retomar o projeto duas rodas?

Senhor Jorge acordou cedo, desta vez com um sorriso no rosto, ele já sabia onde ia. Deu um beijo na esposa e saiu, cantarolando....  Tá ficando louco, pensaram os vizinhos.

Já era no meio da tarde quando a campainha toca. Maria, a esposa, abre a porta para receber do policial a notícia de que o Sr. Jorge não voltaria para casa, fora vítima de um assalto. O Sr. estava feliz, com o vidro do carro aberto, cantarolando não percebeu a chegada do assaltante. Jorge morreu sozinho.

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Cansado de ficar deitado com o sol lá fora
Ficar em casa vendo a chuva
Você é jovem e a vida é longa
E há tempo para matar hoje
E então um dia, você descobre
que dez anos ficaram para trás
Ninguém te disse quando correr
Você perdeu a largada
E você corre e corre para alcançar o sol, mas ele está se pondo
Dando a volta, até surgir novamente atrás de você
O sol é o mesmo, de forma relativa, mas você está mais velho
Com menos fôlego e um dia mais próximo da morte”


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esta é uma história de ficção...

Aprendendo errando


Minha primeira viagem de moto foi em 2016. Fazia poucos meses que eu havia comprado a Amber e poucos meses também de CNH tipo A. Mas aquele era o intuito da moto, viajar. Então criei coragem e planejei uma pequena viagem de 500 km em dois dias.


A ideia era sair de SP e ir até Ribeirão Preto. Lá eu encontraria com meu pai e meu irmão, que sairiam de Uberaba. No dia seguinte seguiríamos até Uberaba, onde passaríamos alguns dias para então percorrer os 500 km de volta para São Paulo.

Tudo planejado, roupas, malas, moto, reservas, a estrada que eu conhecia bem. Ficava faltando só controlar a ansiedade.

Acho que era uma sexta-feira. Acordei não tão cedo e saí de casa, tomei café na rua e logo estava na estrada, tempo bom. Tudo corria bem até por volta do km 120 da bandeirantes onde o céu aberto foi dando lugar a nuvens escuras. A chuva estava ali logo à frente.

Eu tinha uma decisão a tomar, parar para colocar a capa ou rodar por mais 5 km até o posto Graal 125 correndo o risco de pegar um pouco de chuva. Eu estava de calça Jeans e jaqueta verão, mesmo assim resolvi seguir correndo o risco de pegar a chuva.
Erro número 1: peguei a chuva sem colocar a capa.

Em menos de 2 km eu já estava todo ensopado, parei no posto e comecei o strip tease para torcer a camiseta, as meias e a calça. Eu tinha de tentar algo. Depois fiquei parado, não coloquei a capa e fiquei esperando a chuva parar ou diminuir para seguir viagem.
Erro número 2: devia ter colocado a capa e seguido viagem.

Uma hora e meia depois, nada da chuva diminuir, então este esperto escriba resolveu fazer o que já devia ter feito, colocado a capa e seguido viagem. A moto é pesada, pneus novos, dava para ir com segurança. Bora, peguei estrada.

A minha jaqueta é uma daquelas com três camadas, a Jaqueta em si é bastante fresca e deixa passar muito vento, uma capa de chuva e uma capa de frio.  O bonitão resolveu colocar só a capa de chuva.
Erro número 3.

Vento, água e a temperatura ambiente me fizeram passar pelo maior sensação de frio da minha vida. Eu já estava molhado, a capa da jaqueta não funcionava tão bem como uma capa estilo motoboy.
Erro número 4: eu devia ter usado a capa motoboy, que estava na minha mala.

O frio era tanto que eu ficava esperando ver caminhões na estrada, pois ao ultrapassá-los eu dava uma enroladinha ali do lado dele, perto da saída do motor (escapamento) onde era quentinho. Eu me esquentava por dois ou 3 segundos e terminava a ultrapassagem.
Erro número 5: ficar do lado de um caminhão por mais tempo que o necessário.
Erro número 6: fazer isso com pouca visibilidade.

Voltando ao frio, lembro que parei em um posto de combustível e eu não conseguia digitar no whatsapp (para informar a família onde eu estava) por que minhas mãos tremiam muito.  Não dava para acertar a tecla. Mandar áudio também ia ser complicado, já que eu batia os dentes.  Eu devia ter trocado de roupa, nem que isso significasse comprar qualquer trapo a venda nas paradas da rodovia.
Erro número 7: Insistir em viajar molhado.

O tempo passou e eu sofri calado... Não, na verdade ia cantando e falando dentro do capacete, tentando me distrair do frio, concentrar na estrada.


Faltando aproximadamente 60 quilômetros para Ribeirão Preto a chuva deu uma trégua e um tímido sol começou a querer aparecer. Foi o que me deu forças para terminar a viagem.

Lembro com muita clareza que quando cheguei, meu pai e irmão me esperavam na porta da garagem do hotel, eles já sabiam que eu estava todo molhado, me ajudaram a estacionar e descarregar a moto. Subi tremendo e correndo para o quarto e entrei de roupa e tudo debaixo do chuveiro quente.

Assim foi a minha primeira viagem de moto. Em um só dia cometi sete erros que todo motociclista deve evitar.

De SP a Foz, a IDA.

Foi de última hora que resolvi encarar uma viagem do grupo de 2200 km entre São Paulo e Foz do Iguaçu. Era no feriado de 9 de Julho, Revo...